Vitalidade da produção brasileira em HQ é tema de novo episódio do Prato do Dia

Podcast recebe Gabriel Bá, quadrinista brasileiro premiado internacionalmente.

Quando se pensa nas histórias em quadrinhos que surgiram no Brasil, a primeira referência que vem à mente é a de Maurício de Souza e sua consagrada Turma da Mônica. De fato, as histórias protagonizadas por Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali estiveram presentes na infância de muitos brasileiros e até hoje dominam o mercado de quadrinhos no país. Em meados dos anos 1990, entretanto, surge uma outra categoria de HQs, de perfil mais experimental e voltado para um público adulto, chamada graphic novel.

Se no Brasil esse gênero ainda representa um segmento de nicho no universo das HQs, em países como os Estados Unidos as graphic novels são publicadas com grandes tiragens e até adaptadas para o cinema. Até hoje foram poucos os quadrinistas brasileiros que conseguiram dar o salto para se estabelecerem no mercado norte-americano de graphic novels. O convidado do podcast Prato do Dia desta semana, Gabriel Bá, foi um deles.

Atuando na maioria das vezes em parceria com seu irmão gêmeo FábIo Moon, Bá já recebeu alguns dos prêmios mais importante da indústria dos comic books, como o Eisner Award e o Harvey Award. Outro reconhecimento importante foram os elogios que obras como Daytripper (2011) receberam de alguns dos grandes nomes da indústria, como Neil Gaiman. No Brasil, a dupla recebeu o primeiro prêmio Jabuti concedido a uma HQ pela adaptação de O Alienista (2007), de Machado de Assis, e repetiu o sucesso nas adaptações literárias transportando para os quadrinhos o livro Dois Irmãos, de Milton Hatoum, em 2015.

Na conversa, Bá explica como foi a sua formação técnica e descreve a trajetória até se firmar como quadrinista, destacando neste ponto a importância do fanzine 10 pãezinhos, criado pelos irmãos e que era vendido pessoalmente para os amigos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde estudou. Entre as suas principais influências, Bá destaca a geração de cartunistas que se reuniu em torno da revista Chiclete com Banana, nos anos 1990. Admirava especialmente o trabalho da desenhista Laerte. “Acho que ela é a maior desenhista do Brasil, pelo talento, pela sensibilidade com que trata os temas e pelo estilo. E, como a Chiclete com Banana era em preto e branco, eu sempre tive essa paixão por desenhos em preto e branco”, conta.

Os bastidores da elaboração de alguns trabalhos também foram objeto do bate-papo, desde a participação em séries renomadas, como a contribuição em Hellboy, personagem criado por Mike Mignola, ou as adaptações literárias que renderam prêmios à dupla de irmãos. “Nós vimos como uma oportunidade de alcançar um novo público com uma obra diferente. E deu certo porque ‘O Alienista’ alcançou outros leitores e ganhou o prêmio Jabuti. Isso abriu portas para os festivais de literatura e para esse mundo da literatura que os nossos quadrinhos ainda não tinham desbravado”, diz.

O salto para o mercado norte-americano, contudo, aconteceu mais tarde. Para isso, foi fundamental que os dois irmãos passassem uma década frequentando a Comic Con, evento especializado em HQs e cultura pop que acontece anualmente na cidade de San Diego, na Califórnia.

As primeiras viagens aos EUA, ainda no final dos anos 1990, aconteceram em um momento em que Gabriel Bá e Fábio Moon estavam decepcionados com o mercado de HQs e pensando em abandonar a carreira. O contato com diferentes quadrinistas e tantas obras criativas e inéditas foi um estímulo para seguirem a carreira.

“Aquilo me deu uma injeção de ânimo e abriu essa porta, ao mostrar que eu podia fazer o que eu quiser. Não preciso desenhar igual ao Jim Lee, não preciso fazer super herói. Posso fazer o que eu quero com o meu estilo”, lembra. Anos depois, seu trabalho como desenhista nas séries Umbrella Academy  (mais tarde adaptada para a Netflix) e Daytripper  seriam celebradas na própria Comic Con.

Ouça abaixo a íntegra da entrevista ao podcast Prato do Dia.