Quando falamos sobre o que faz o estado de São Paulo ser uma referência no Brasil e no mundo, o papel das universidades estaduais é incontornável. Entre elas, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) ocupa um lugar de destaque, sendo a segunda maior produtora de conhecimento no país, de acordo com dados da CAPES, ficando atrás apenas da USP e à frente da Unicamp.
Mas o que diferencia realmente Unesp, USP e Unicamp das universidades federais que também estão no estado, como a UFSCar, UFABC e Unifesp? A resposta está na valiosa autonomia acadêmica e financeira que as universidades paulistas conquistaram.
Essa autonomia é o pilar que sustenta sua excelência acadêmica. As decisões sobre gestão, orçamento e política acadêmica são feitas dentro da própria universidade, sem depender diretamente dos humores políticos do governo o que, à semelhança do que acontece com o sistema S, dá às instituições a liberdade de se planejar estrategicamente e de adaptar seus cursos e pesquisas às necessidades reais da sociedade, o que as diferencia do sistema federal, muitas vezes preso a limitações orçamentárias e ingerências externas.
A Unesp, por exemplo, tem presença em 24 municípios de São Paulo, levando educação de ponta a regiões que, de outra forma, teriam poucas oportunidades. Mas ela vai além: acolhe não só estudantes de todo o estado, mas também de outros estados e de diferentes partes do mundo. Recentemente, a Unesp recebeu estudantes de pós-graduação da Guiné-Bissau, Nigéria e de outros países da América do Sul. Esse é um exemplo concreto de como a universidade está não apenas transformando São Paulo, mas também ajudando a transformar vidas em países que enfrentam dificuldades.
Essa capilaridade não é apenas geográfica, mas também acadêmica. A Unesp, junto com a USP e a Unicamp, sempre figura entre as melhores universidades do Brasil em diversos rankings, e isso se deve à sua autonomia, que permite que essas instituições mantenham altos padrões de qualidade em ensino e pesquisa. Enquanto as federais em São Paulo enfrentam obstáculos para alcançar a mesma projeção, as estaduais seguem prosperando, justamente por conta dessa liberdade de gestão.
Outro ponto importante é essa autonomia ser mantida e fortalecida graças a um ponto crucial: a rede de colegiados e conselhos democráticos que compõem a estrutura interna da Unesp.
É através desses órgãos, formados por docentes, técnicos e estudantes, que a universidade toma decisões estratégicas, garantindo que todos os segmentos da comunidade acadêmica sejam ouvidos e que as decisões reflitam os reais interesses da universidade.
Esse sistema de governança interna tem sido alvo de questionamentos que não compreendem sua importância. Criticar o poder decisório desses colegiados é, na prática, minar o fundamento democrático da universidade e sua capacidade de seguir um caminho autônomo.
Também por isso, as eleições que ocorrerão até nesta quinta-feira (3), em primeiro turno, serão decisivas para o futuro da Unesp. É importante ressaltar que a autonomia não pode ser apenas uma bandeira defendida superficialmente; ela precisa ser compreendida como o motor que garante a qualidade e a independência da instituição.
Ao longo dos seus 35 anos de autonomia, a Unesp tem se mostrado uma peça fundamental no sucesso do estado de São Paulo, funcionando em perfeita simbiose com os setores culturais, industriais e financeiros.
Essa simbiose entre a Unesp e São Paulo não é apenas uma relação de dependência mútua; é uma parceria estratégica que une o que o estado tem de melhor: inovação, diversidade e excelência.
José Manuel Diogo é colunista da Folha de São Paulo e diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos. O artigo foi publicado originalmente na Folha de São Paulo.