João Luiz de Oliveira Cunha, ou simplesmente João Sabiá, nasceu em 14 de março de 1981 na cidade do Rio de Janeiro. Cresceu à beira do mar, na atmosfera de Copacabana, e o clima criativo e romântico do bairro ajudou a despertar o seu interesse pelas artes, e continua servindo de inspiração para seu trabalho como cantor, compositor, instrumentista e ator.
“Meu pai, seu João Carlos, que faleceu quando eu tinha apenas 11 anos, era administrador de empresas. Entretanto, na juventude iniciou uma carreira como guitarrista. Chegou a participar de um conjunto de rockabilly, tocando em bailinhos, festinhas e tal. Ele tocava muito bem violão, com aquela linguagem um pouco de seresta. Adorava Jovem Guarda e MPB em geral”, relembra. “Ele gostava de chamar os amigos para ir em casa, cozinhava muito bem. Fazia rodas de violão e o pessoal o acompanhava cantando as canções. Ele não gravava, mas compunha músicas para minha mãe, para o meu irmão e para mim. Hoje, com 43, encontro alguns amigos que conviveram muito com ele. Eles dizem: ‘pô, você parece seu pai. Tem o jeito de falar, a voz’ “, conta João Sabiá.
Inicialmente, João Sabiá ingressou numa banda criada por um irmão mais velho, apenas por diversão. Ambos começaram a compor juntos, e o jovem gostou do processo e do desenvolvimento musical. Aos 19 anos, cursava faculdade de Rádio e TV. “Já estavam pintando os shows. Comecei a estudar música e canto. Daí passei a me destacar na banda, pois meu irmão trabalhava o dia inteiro. Me deu vontade de tocar com pessoas que quisessem uma carreira musical. Então subi o patamar. Arrumei uma banda que vivia de música, fui tocar na noite e caí na pista”, diz. Desde o começo, suas preferências musicais se orientavam para o gênero do sambalanço.
Era a época da virada do milênio. O Rio de Janeiro experimentava a revitalização da Lapa e do Centro da cidade. A região era muito frequentada por artistas importantes, como Teresa Cristina e Paulo Moura. Em São Paulo, explodia o samba rock. “Com 21 anos de idade eu já era crooner de uma orquestra com grandes músicos. Fui para a noite e o repertório seguia sempre essa linha de sambalanço, bossa, MPB mais dançante, Jorge Ben, Tim Maia. E por aí foi.”
Em 2004, após duas tentativas anteriores, foi selecionado para o programa Fama, da Rede Globo. Conquistou o terceiro lugar, tendo sido o único participante a disputar uma final de reality show na emissora com uma música autoral, Renata, Renatinha. A participação no programa ampliou suas possibilidades artísticas. Após o encerramento da edição, foi convidado a participar de vários trabalhos dramatúrgicos, como a minissérie Hoje é Dia de Maria. Participou também da telenovela Vidas Opostas e da telenovela Paraíso, e interpretou o deputado Osório Espínola na série Fora de Controle, da Rede Record. Também fez participação especial na novela A Força do Querer, novamente pela Rede Globo. Sua abordagem, no entanto, sempre foi a de buscar conciliar dramaturgia e música.
“Na verdade, me tornei ator por obra do destino, por causa do Fama. Não vislumbrava esse caminho, nunca havia feito teatro. Fiz apenas um curso de expressão corporal para atores que servia também para cantores. Nessa época, já estava me virando bem com a música. Porém, a proposta financeira era muito boa, então tentei conciliar shows, gravações etc. O canto era justamente o meu diferencial em relação aos outros atores. Descobri que, de certa forma, tinha um talento natural para atuar, e assim me tornei ator”, diz. Nas telas, já trabalhou ao lado de nomes como Fernanda Montenegro, Ricardo Blat, Osmar Prado, Daniel Oliveira, Rodrigo Santoro e Letícia Sabatella, entre outros. “Mas o foco principal sempre foi a música, é ela que realmente alimenta minha alma artística.”
Da TV para o CD
“O processo de gravação dos discos realmente teve início lá atrás. Quando pintou a oportunidade de gravar, já tinha boa parte das músicas. Mas também houve um impulsionamento dado pelo Fama”. lembra.
Ele relata que, quando chegou à final do programa, o diretor da atração disse que os candidatos poderiam escolher o que cantar. Na hora, ele perguntou se podia cantar uma canção autoral. O diretor concordou. “Foi ao vivo, acompanhado de uma baita banda. Nesse sentido, só pelo fato de apresentar ali uma música minha, dançante, descontraída, pude atingir um público gigante, que incluía a galera da gafieira, a dos bailes, os sambistas, os músicos de sambalanço… Isso já foi um grande impulso para a minha carreira”, diz. “Logo após o programa, eu já tinha um material autoral, algumas faixas gravadas. Mas a questão das novelas não me permitia tempo para gravar meu próprio CD. Até que, com a ajuda de excelentes músicos e produtores, consegui lançar o primeiro álbum em 2006.”
Em 2006 ele lançou seu primeiro álbum, Pisando de Leve. Posteriormente vieram os CDs My Black, My Nega (2010), Nossa Copacabana (2014) (que teve participação de Wilson Simoninha), e JOÃO (2018), que trouxe um dueto com Luiza Possi no single Me Responda.
O CD Nossa Copacabana marcou uma mudança na trajetória de João Sabiá, expandindo sua sonoridade, letras e os rumos da carreira. “Nesse terceiro álbum, eu já estava decidido a ir embora do Rio de Janeiro e vir morar em São Paulo. Era um álbum meio de despedida. Daí pensei em fazer uma obra temática sobre Copacabana, o meu bairro”, diz. Ele e o irmão começaram a conceber o conceito. A ideia era falar da Copacabana que os dois conheceram, passando pelas ruas, as pessoas do bairro… “Copacabana é um lugar onde tem tudo acontecendo. E, ao mesmo tempo, possui aquela praia superlinda, com coqueiro e água de coco”, explica.
“Comecei a cantar num tom mais baixo, as letras foram mais conceituais. O álbum foi um divisor de águas. Agora, ele celebra dez anos e será um prazer fazer shows para homenageá-lo”, diz. Ao retomar o contato com essa obra agora, já com mais de 20 anos de carreira nas costas, ele sintetiza o conceito do álbum pela expressão “O som com cheiro de mar”. “Creio que posso definir assim”, diz
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.