No próximo domingo, 10/12, chega ao fim a 35ª edição da Bienal de São Paulo. Esta edição recebeu o nome de Coreografias do impossível. Segundo os curadores, trata-se de um mote para expressar um desejo: construir e imaginar tempos, espaços e mundos que desafiem uma certa visão cética, que circula hoje, de que os ideais de justiça, liberdade e igualdade seriam na verdade inalcalçáveis ou impossíveis.
A Bienal de São Paulo nasceu em 1951, sempre com a proposta de oferecer ao público paulistano e brasileiro uma visão panorâmica da arte produzida em seu tempo. Seu criador, o empresário Francisco Matarazzo Sobrinho, acreditava que um evento com este perfil, e com estas proporções, seria uma importante contribuição para forjar a imagem de um Brasil mais moderno. A convite do podcast Prato do Dia, da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp, o professor do Instituto de Artes da Unesp Carlos Eduardo Riccioppo Freitas debate a função e o legado da Bienal de São Paulo, e explora os caminhos e os sentidos da arte no mundo contemporâneo.
Inspirada na Bienal de Veneza, que acontece a cada dois anos desde 1895, a antiga Bienal Internacional de Artes de São Paulo exerceu imenso impacto no ambiente artístico da América do Sul, pois foi a primeira exposição de grande porte sediada na região. Nos anos 1950 o acesso à arte contemporânea era pífio; a maior parte da sociedade consumia a produção artística da década de 1920, e mesmo apenas no ambiente restrito e elitista dos museus. A Bienal revolucionou esse cenário ao promover artistas e obras da época. “Ela era parte de um grande projeto, que consiste em pensar qual é o lugar de uma produção de um país periférico dentro das dinâmicas da cultura do mundo”, diz Freitas. Mas também recebeu críticas por parte de “toda uma elite muito conservadora brasileira, que não gosta de novidades e grandes experimentos”, diz.
Para Freitas, as exposições de arte também cumprem o papel de estabelecer uma relação de continuidade com a arte produzida no passado. Isso é algo importante também no caso brasileiro, onde os historiadores da arte tendem a selecionar poucos artistas, distanciados no tempo e no espaço, para integrarem os livros acadêmicos. “A história das exposições de arte no Brasil se confunde com a tentativa de consolidar uma história da arte brasileira”, comenta Freitas “É importante construir uma continuidade para que a arte brasileira possa ser vista e possa se ver, se reconhecer e ser confrontada com o que se produz internacionalmente.”
Outro aspecto importante é a possibilidade de levar as obras para fora do ambiente elitizado dos museus e galerias e exibi-las em um local com uma perspectiva pluralizada, que tenta ressignificar nossa história. “Essa variedade ficou evidente neste ano, porque 80% dos artistas participantes se autodeclararam não-brancos, um passo muito importante em direção a uma exposição mais diversa”, diz o docente.
Para entender mais da história da Bienal de São Paulo e a relação do Brasil com a arte contemporânea, confira o novo episódio do Prato do Dia, disponível em todas as plataformas de áudio e também no link abaixo.
Imagem acima: vista da obra de Torkwase Dyson na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível. Crédito: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo