Fabio Mazzitelli, Malena Stariolo
Gênero literário desenvolvido a partir do Século 19, a ficção científica pode ser considerada um retrato expresso da época em que é produzida e, nesse sentido, nunca esteve tão inclinada a distopias como nos dias atuais, com o conceito de “terraformação”, citado pela primeira vez numa história de ficção científica aliás, em voga para tentar entender a Terra no antropoceno.
Professora graduada em letras pela Unicamp, com mestrado e doutorado em língua e literatura alemã pela USP, Karin Volobuef é uma docente precursora na Unesp no oferecimento de uma disciplina sobre “ficção científica”, lançada pela primeira vez em 2020 para alunos da pós-graduação, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários, sediado na Faculdade de Ciências e Letras (FCLAr) do câmpus de Araraquara.
Nascida de um curso livre que lecionou fora da Universidade, a disciplina é fruto de estudos da docente do Departamento de Letras Modernas da FCLAr e propõe um olhar aprofundado a respeito do assunto, desfazendo mitos de visões rasas sobre a temática ao mesmo tempo em que busca quebrar resistências do mundo acadêmico para aceitá-la como debate literário sério. “Uso minha disciplina para mostrar o quanto a ficção científica pode ser complexa, o quanto ela pode estimular não só a nossa imaginação, nossa sensibilidade, mas o nosso senso crítico e a nossa fruição estética no sentido mais profundo”, afirma Karin Volobuef.
No podcast “Prato do Dia” dedicado a esmiuçar este gênero literário, a docente afirmou que hoje a academia tem se mostrado mais aberta a discuti-lo e esclareceu um ponto que costuma gerar muita confusão a quem não é muito afeito à ficção científica: embora existam narrativas extremamente visionárias produzidas ao longo da história, como a chegada do homem à Lua citada em obras do Século 19, o objetivo da ficção científica nunca foi prever o futuro.
“A ficção científica sempre vai levantar, tanto em termos de ideias como também emocionalmente, os receios e os sonhos de uma certa época. É o retrato dos medos e das ansiedades, por exemplo, de um determinado tempo”, diz a professora. “Por mais que olhe para frente, ela sempre está enraizada no momento de quando foi concebida.”
Como exemplo, Karin Volobuef cita as narrativas sobre Marte, que identificavam os “marcianos” como o inimigo a ser combatido durante o período da Guerra Fria e atualmente se referem ao planeta no contexto de busca por sinais de vida fora da Terra, argumento mais alinhado ao contexto das preocupações ambientais do Século 21.
“Estamos numa fase em que as distopias estão atraindo muito a atenção. Temos muita produção de obras novas e temos muito a redescoberta de distopias antigas que estavam esquecidas e estão sendo retomadas. Vivemos uma época de grande interesse por distopias, uma quantidade imensa mesmo, e isso vem desse mesmo tópico que estamos conversando. Vivemos hoje um momento bastante crítico da humanidade, do nosso planeta, das relações políticas”, reflete a docente.
A íntegra do podcast Prato do Dia sobre ficção científica está disponível na mídia abaixo e pode ser ouvida e baixada na plataforma Podcast Unesp, bem como nos agregadores Spotify, Deezer, Google Podcasts e agora também na Amazon Music. O Prato do Dia é um podcast produzido pela Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.