“Minha voz é vento”. Este verso expressa o delicado universo lírico por onde transita o trabalho da cantora paulistana Cristina Guimarães que lançou, no mês de março, seu primeiro EP intitulado Em Canto. A obra de voz e piano traz quatro belas faixas que variam entre títulos consagrados e composições contemporâneas. Nelas, Cristina surge como uma intérprete singular, de timbre grave e aveludado, capaz de imprimir sua identidade ao que passa pela tela da sua voz.
Na canção que abre o EP, “Caso Você Case” (Vital Farias), o arranjo intimista evoca a docilidade de uma caixinha de música e desvenda a feminilidade contida na letra, que trata do despertar da mulher para sua individualidade. Em contraponto, a tonalidade grave de voz de Cristina confere força à mensagem da canção: “Caso você case / Não escreva a nota / Não destrave a porta / Não esteja morta / Não estrague a horta”.
A segunda faixa é a clássica “Dindi”, parceria de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, que foi lançada como single. A versão mostra todo requinte de Cristina como intérprete. “A bossa nova foi fundamental na minha formação. Ouvia porque queria entender a harmonia, a sonoridade, o coloquial, o inusitado que esse movimento trouxe. Ouvia muito, em especial, Nara Leão”, diz a cantora.
Em seguida vem “Tempo Velho”, de Douglas Germano, compositor contemporâneo, expoente do samba paulista. Essa faixa traduz a musicalidade paulistana, e é ela que traz o verso que associa a voz aos sopros nos ares. “Este verso é muito representativo para mim nesse momento de retomada da carreira, é uma verdade em mim. Assim vejo meu trabalho hoje”, diz.
O EP fecha com outro clássico, “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues. Mais uma pérola que amarra a ideia da intérprete que retoma sua voz. A interpretação é como a de uma peça consagrada, mas livre de estereótipos. “Esta música surgiu no processo de criação do trabalho, perfeita para o contexto que idealizei apresentar.”
Durante o processo de produção do álbum, Cristina contou a colaboração de nomes de referência do meio artístico. A produção musical foi de Luis Felipe Gama, que também executa o piano e assina os arranjos. Mixagem e masterização foram realizadas por Alexandre Fontanetti e Luiz Bueno (Ex- Duofel). Já as fotos foram feitas por Gal Oppido. “Desde o início tive a honra de trabalhar com nomes importantes como o Fontanetti, que me incentivou muito, o Luiz, que acabou dando o nome Em Canto, as fotos do Gal, que ficaram ótimas… Enfim, toda equipe foi muito especial para a concepção deste EP que está disponível nas principais plataformas de música.”
Filha de pianista, Cristina cresceu numa casa onde se ouvia música clássica e MPB, e descobriu o amor pelo canto na juventude. Estudou canto, formou-se em Psicologia e se especializou em Psicanálise. Paralelamente, seguiu cantando. Em Campinas, onde estudo em diferentes instituições, foi a voz de grupos que se apresentavam na cidade, atuando ao lado de instrumentistas de renome como o pianista Bebeto von Buettner, o baterista Ramo Montagner e, no Trio Azeviche, ao lado do guitarrista Bruno Mangueira e do baixista Marcos Souza, entre outros.
Em 2019, a pianista e cantora Cida Moreira, com quem fazia aulas de canto, incentivou-a a assumir definitivamente sua relação com a música. Foi quando decidiu investir em um trabalho próprio de intérprete, gravar alguns singles e, finalmente, lançar seu primeiro EP. Agora, Cristina prepara o show Presente & Cotidiano, com canções compostas e gravadas por Luiz Melodia, uma paixão que pretende colocar no palco em breve. Esse trabalho de releituras é pautado pela originalidade, trazendo arranjos que apresentam Cristina Guimarães interpretando Luiz Melodia.
Ouça abaixo a entrevista e as faixas do Em Canto no Podcast MPB Unesp.
Foto acima: Gal Oppido.