Os tambores sem fronteiras de Fabio Bergamini

Acompanhante de nomes como Madredeus e Alceu Valença, percussionista acumulou pesquisas e vivências musicais por diversos continentes, e traduz esse legado nas faixas de seu primeiro álbum instrumental.

Ao longo de seus 30 anos de carreira, o instrumentista e compositor Fabio Bergamini teve a oportunidade de se apresentar ao lado de inúmeros artistas, cruzar alguns continentes e estudar as origens musicais de diferentes povos. Durante essas viagens culturais e antropológicas, pode acumular conhecimentos ímpares e amadurecer novas ideias que culminaram no caldeirão sonoro que marcou seu primeiro álbum solo. Intitulada Nandri, a obra foi lançada pelo selo Belic Music no final de 2022 e está disponível em todas as plataformas digitais de música.

As oito composições instrumentais que integram o álbum foram inspiradas em paisagens, viagens ou histórias vividas por Fábio, que é autor da maioria das faixas. O repertório de linguagens colhidas em diferentes regiões do planeta se manifesta na diversidade de timbres, ritmos, cores e sonoridades, que são complementados por um requinte legitimamente jazzístico.

Nandri significa ‘obrigado’ na língua Tamil (sul da Índia). Esse é um trabalho feito em agradecimento aos tantos caminhos pelos quais a música pode nos levar. E que nos fazem mergulhar tanto internamente, na busca de nossa essência, como no mundo exterior, dando-nos a oportunidade de conhecer lugares, culturas e pessoas incríveis ao longo da jornada”, diz Fabio. “Esse álbum é uma celebração à música sem fronteiras, à diversidade musical encontrada na cidade de São Paulo e aos possíveis encontros e intersecções onde a música pode ser essa linguagem universal dos sons. É o resultado do que vivi até então; do tanto que estudei e desenvolvi, e de como vejo, expresso e entendo o mundo”, diz o artista.

Gravado a distância durante a pandemia de Covid-19, Nandri conta com a participação de músicos nacionais e internacionais de extrema habilidade. Essa variedade trouxe sonoridades com nuances orientais, ocidentais, africanas e latinas, capazes de soar de forma diferenciada e instigante. “No álbum, contei com músicos e amigos especiais. Rui Barossi no contrabaixo (que também assina a produção musical e os arranjos do álbum, junto com Bergamini), Rubinho Antunes no trompete, André Bordinhon na guitarra, Paula Mirhan na voz, Fábio Oliva no trombone e Sidney Ferraz no piano. Também participaram a cantora espanhola Mili Vizcaíno, os músicos indianos Ghatam Karthick e Sarvesh Karthick, a cantora suíça-brasileira Taïs Reganelli (radicada em Portugal), o saxofonista Guto Lucena (radicado na Suécia), o pianista carioca Pedro Carneiro Silva e os paulistanos Gabriel Levy (acordeon) e Emilio Martins (percussão)”, enumera o músico.

Obviamente, a diversidade cultural apresentada no trabalho de Bergamini inclui a brasilidade, retratada em elementos da cultura popular como os pandeirões de bumba meu boi do Maranhão, o bombo leguero gaúcho  e as alfaias de maracatu. Ela também se expressa por meio de interpretações mais livres das faixas, inspiradas na música instrumental brasileira de Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos e Hermeto Pascoal.

“De forma geral, defino minha obra como uma intersecção entre diversas linguagens que envolvem música brasileira, música étnicas do mundo e jazz. Entretanto, os músicos e eu ficamos livres para tocar, criar e improvisar. Ou seja, é uma música sem fronteiras”, explica.

Bergamini alçou uma vasta experiência internacional tocando com o emblemático grupo português Madredeus e acompanhando outros artistas de renome, como Ivan Lins, Frejat, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença e Luiz Melodia, entre outros.

Como acadêmico, além de seu mestrado em performance pela Unicamp (Campinas/SP), cujo objeto de estudo foi a “música universal de Hermeto Pascoal”, Bergamini estudou etnomusicologia na Universidade Nova de Lisboa (PT), quando seu interesse pelas músicas do mundo se expandiu. Esse interesse o levou para Moçambique e África do Sul por três meses, tocando e pesquisando, e a ficar por um semestre na Índia, lecionando e estudando música carnática. Também estudou com John Bergamo, na Califórnia (USA), em curso de World Percussion, e escreveu o livro didático de bateria do Projeto Guri (SP/SP). Atualmente, desenvolve pesquisa sobre as músicas tradicionais de cada região brasileira, trabalho que resultou em um curso para mais de três mil professores da rede municipal de São Paulo (Mapa Musical do Brasil).

Confira a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.

Imagem acima: Dani Sandrini.