Paulo Meyer: resistência e alto astral no blues brasileiro

Artista dialogou com diversas sonoridades em seu trabalho, da surf music à música latina, e se tornou uma influência sobre toda uma geração de bluesmen de São Paulo.

Você já se imaginou caindo na estrada a bordo de uma kombi para desbravar praias e cachoeiras enquanto curte o som do blues? Essa é a sensação transmitida pelo trabalho do cantor, compositor, gaitista e bluesman, Paulo Meyer.

Natural de São Paulo, Paulo Meyer se tornou uma referência no blues feito no Brasil com seu vozeirão, gaita em punho e estilo irreverente. O amor pela música e a arte se iniciaram ainda em tenra idade. “Eu ouvia muitas canções no rádio quando criança. Me lembro perfeitamente daquele vozeirão rouco da Elza Soares, que por sinal foi minha primeira influência para o blues, e em casa havia uma série de discos de nomes como Lamartine Babo. Uma madrinha que ouvia muito “Peter, Paul and Mary” me despertou o interesse no trabalho do trio, que era folk mas também fazia versões blues de algumas músicas, como certas canções de Bob Dylan”, lembra.

Meyer acha que sua verve musical também origem genética. “Quando nasci, meu pai já tinha uma certa idade, mas me contaram que ele tocava flauta transversal em uma banda que se apresentava em sessões de cinema mudo. Tenho essa flauta até hoje. Quem herdou e toca esse instrumento é a minha filha que estudou e está se formando em música na USP. Ela seguiu a tradição na flauta”, relata.

Meyer iniciou sua carreira artística profissional tocando na banda do guitarrista Nuno Mindelis. Ele participou de gravações junto a nomes como Sérgio Dias Baptista e Alexandre Fontanetti, e trabalhou como intérprete de artistas estrangeiros na edição paulista do Festival de Jazz de Montreux e no Rio-Monterey Jazz Festival, ambos em 1980, e em todas as edições do festival de blues Nescafé Blues, na década de 1990. Ao longo de sua carreira, conheceu pessoalmente nomes lendários do blues como Champion Jack Dupree, B.B. King, Pinetop Perkins e Eric Burdon. Nos anos 1990, liderou a inovadora banda Expresso 2222, que influenciou toda uma geração de bluesmen paulistanos. Durante muitos anos, tocou blues e rock na cidade de Paraty, Rio de Janeiro, onde suas apresentações são consideradas uma das atrações turísticas da cidade e região. Em 2009 participou da décima edição do Festival de Blues & Jazz de Guaramiranga, Ceará, onde fez o show de abertura para o gaitista Toots Thielemans.

Dotado de amplo conhecimento musical, seu interesse e admiração pelas músicas brasileira e latina ampliaram os horizontes da sua sonoridade, e lhe ajudaram a se tornar um bandleader. Outro elemento que diferencia seu trabalho está em seu interesse por questões sociais e políticas e com muito bom humor, seu blues se torna diferenciado.

Seus trabalhos mais recentes estão atrelados ao grupo “Paulo Meyer e The Thunderheads”, com o qual já gravou dois belos álbuns: “Kombi 71” e “Kombi 72”. Lançados em sequência, ambos os álbuns trazem um trabalho autoral bem elaborado e versões de clássicos pontuais bem selecionados. As faixas têm uma alma blues e vêm acompanhadas de sonoridades no estilo classic rock, além de excursionarem pela surf music. O conjunto forma caldeirão sonoro com muito alto astral que realça a resistência da continuidade do blues feito no Brasil. 

Para Meyer, que celebrou 67 anos em outubro, o interesse pelo blues tem crescido dentro e fora do país. “O espaço do blues é cada vez maior. Quando comecei o gênero tinha pouca visibilidade e informação, que são fatores que colaboram para fortalecer um cena. Eu vi o Igor Prado, por exemplo, no começo da carreira, e hoje ele é um grande nome internacional. Caras como esses estão no nível mais alto do blues. Por causa desses músicos tão bacanas, novas gerações também se interessam por essa sonoridade contagiante e fazem o blues seguir forte e adiante”.

Confira a entrevista completa com Paulo Meyer no Podcast abaixo.