Fabio Golfetti: A guitarra progressiva e psicodélica do rock brasileiro

Com mais de trinta anos de trajetória artística, o músico e guitarrista paulistano construiu uma carreira cultuada e respeitada no rock, dentro e fora do país.

Os fãs do guitarrista, músico, compositor e produtor Fabio Golfetti sabem que seu nome é sinônimo de música psicodélica brasileira sofisticada e bem executada. Mas a obra inovadora e peculiar que ele conseguiu construir desde os anos 1970 já ultrapassou até os limites desta cena e levou-o inclusive para voos fora do país.

Nascido em 10 de abril de 1960, na cidade de São Paulo, Golfetti se interessou por música ainda garoto. Influenciado por amigos, teve contato com grandes nomes da MPB e a possibilidade de estudar violão. “Por volta dos 12 anos comecei a escutar, junto com alguns amigos, artistas como João Gilberto, Tom Jobim e em especial Baden Powell. Em seguida, também tive um certo incentivo por parte de duas tias para aprender um pouco mais de violão. Mas foi entre dezessete e dezoito anos, nessa fase mais ligado ao rock, que tive acesso à guitarra e desde então não larguei mais o instrumento”, relata.

Gofetti inspirava-se em bandas como Pink Floyd, Gong, Led Zeppelin, Beatles e Rolling Stones, e encontrou em instrumentistas como Daevid Allen, Syd Barrett, Terje Rypdal e Manuel Göttsching algumas de suas principais influências. Em 1978, junto com amigos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde ele estudou, fundou o Lux, sua primeira banda. Posteriormente, o Lux passou a se chamar Ultimato em 1981, e com a chegada do baterista Cláudio Souza adotou uma linha musical de punk jazz/no wave instrumental. Tempos depois, com a entrada do vocalista Guilherme Isnard, a banda mudou de nome novamente, para Zero. Como integrante  do Zero, ele participou da gravação do single “Heróis”.

Em 1985, Golfetti e Souza deixaram o Zero e formaram, juntamente com Ângelo Pastorello, o Violeta de Outono, que se tornaria uma influente banda na cena de rock psicodélico e progressivo do Brasil. “Na verdade, o Violeta surgiu após a divisão da banda anterior, onde praticamente cada músico buscou seu próprio trabalho. Assim que montamos a formação que tinha eu, Ângelo Pastorello (contrabaixo) e Cláudio Souza (bateria), buscamos uma sonoridade simples e peculiar ao misturar as tendências musicais da época com influências psicodélicas e progressivas dos anos sessenta e setenta que pudesse também atingir um público mais amplo”, conta ele.

“Em seguida, gravamos uma fita demo ao vivo durante um ensaio,  na qual ficou o registro de um som de garagem muito bacana. Essa fita foi parar na Rádio 89 FM que estava começando suas atividades. Ao transmitir essa fita, o áudio ganhou proporções mais amplas, devido aos compressores de saída da emissora, e o som ficou bem encorpado. Daí nossas músicas começaram a passar na programação diária da rádio. Assim, em março de 1985, antes da estreia oficial, a banda começou a chamar a atenção, e tivemos a boa surpresa de constatar que o público conhecia as nossas músicas já nas primeiras apresentações”, diz Golfetti.

Em 1986 o trio gravou o EP “Violeta De Outono” por meio do selo independente Wop Bop Discos, o qual inclui as faixas “Outono”, “Trópico” e “Reflexos Da Noite”. Este lançamento fez com que a banda se destacasse nas rádios e revistas e, em seguida, assinasse com a gravadora RCA, que lançou o LP “Violeta De Outono” em 1987. O trabalho era marcado por uma psicodelia envolta em sombras que logrou o feito de atrair tanto fãs de rock progressivo quanto dos estilos pós-punk e gótico.

“Dessa forma, tudo ocorreu rapidamente. Começou a divulgação mais amplas em rádio e TV. A gente até restringiu algumas coisas, como colocar músicas em novelas e tal. Foi uma divulgação normal, vendemos um número razoável de discos e esse nosso primeiro álbum se tornou o mais conhecido da banda. Sem dúvida, esse processo mudou o nosso padrão e ajudou bem o Violeta. Não atingimos um sucesso extremo, mas creio que conquistamos nosso espaço e até hoje temos fãs fiéis”, diz o músico.

Durante o período na gravadora RCA/BMG, que durou de 1986 a1989, a banda também gravou o EP “The Early Years “, que inclui 4 covers psicodélicos clássicos, e também o álbum” Em Toda Parte”, onde introduziu elementos da música eletrônica em seu som. Desde então, a banda continua a emendar uma sequência de álbuns e trabalhos relevantes e diferenciados. Entre eles estão o DVD “Violeta de Outono e Orquestra da USP”, em 2006, resultado de uma série de shows em parceria da banda com o conjunto orquestral.

Em outubro de 2022, lançaram o novo álbum intitulado “Outro Lado”. “Neste trabalho mais recente resgatamos composições do trio durante a década de 1992-2002. A ideia era registrar hoje as músicas como deveriam ter sido gravadas na época, quando a gravadora BMG editou pela primeira vez em CD os clássicos álbuns ‘Violeta de Outono’ e ‘Em Toda Parte’. Algumas demos dessas músicas circularam em fitas cassete entre os fãs da banda nos anos 90”. O álbum, que foi gravado no MOSH Studios, em São Paulo, conta com a formação original e é o décimo realizado em estúdio, e mostra uma outra faceta do trio, com canções curtas e maior destaque para as letras e o vocal.

Ao longo de mais de 30 anos de estrada, a banda permanece ativa, desfrutando de um statuts cult que lhe valeu inclusive reconhecimento internacional. Seus shows são conhecidos pela atmosfera hipnótica/sonhadora que se tornou sua marca registrada.

Atualmente, Fábio Golfetti está em turnê pela Inglaterra junto com a banda multicultural Gong, criada pelo lendário artista Daevid Allen, da qual ele também é um dos integrantes.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast Unesp. 

Foto acima: divulgação.