João Ormond: O violeiro do pantanal

Expoente na música regional brasileira, o músico mato-grossense faz da sua obra uma paisagem poética musical

Natural da cidade de Alto Paraguai – MT, localizada aos pés da nascente do Rio Paraguai, João Ormond nasceu em 1962, filho de pai baiano e mãe pantaneira e teve o privilégio de ser criado tomando banho em riacho, ouvindo boas referências musicais e observando toda cultura e natureza que cercavam sua infância. Leva na memória seus primeiros contatos com a música por meio do seu avô materno “Seo Dorico”, um musicista, que tocava flauta e junto com ele tinha o hábito de ouvir rádio.

“A minha relação com a música surgiu em casa, em especial com meu avô. Ele ouvia a Rádio Nacional de Brasília, então, no final do dia, ele me botava no colo dele e ficávamos ali escutando músicos como Ângela Maria, Cauby Peixoto e Agnaldo Rayol, por exemplo”, lembra Ormond. “Aos 9 anos ganhei um violão de minha mãe e aprendi a fazer meus primeiros acordes. Nessa mesma época, meu avô me inscreveu no Festival da Canção em Nortolândia – MT”.

Com o decorrer dos anos, João ampliou suas referências musicais e se mudou para Cuiabá. No colégio Salesiano São Gonçalo, onde estudava, começou a tocar nas missas e fazia parte de um grupo musical de alunos que participava de eventos e festivais. Posteriormente, calcado num repertório de MPB, começou a tocar em barzinhos da cidade, e entrou para o curso de História na UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso, onde concluiu a graduação com um Trabalho de Conclusão de Curso sobre a Música na Fronteira no Oeste do Brasil. A pesquisa despertou uma nova paixão em sua vida: “A viola”.

“Foi justamente na universidade que a viola apareceu na minha vida. Amor à primeira vista. Durante o estudo do meu TCC, pesquisei a música de fronteira e a influência da música espanhola nesse contexto. Tive contato e fiz pesquisas com os ribeirinhos que tocavam violas em festas religiosas e outros encontros culturais dessas comunidades. Coletei trabalhos de como eles tocavam, as diferenças entre os timbres, tonalidades e fui lapidando e ouvindo esses caras tocarem. Eu utilizava um gravador para captar os sons e depois comparava o som desses músicos violeiros com o som feito em outras regiões. Ou seja,  analisava os chamamés, as polcas e guarânias que esses ribeirinhos faziam com outros músicos que tocavam os mesmos estilos em outras partes do Brasil. Isso foi fundamental na minha formação como violeiro e entendedor da cultura pantaneira e de fronteira”.

Com essa nova percepção cultural, João Ormond gravou seu primeiro álbum autoral em 1997, o CD “Rio Abaixo”. “A gravação desse trabalho foi bem interessante. Primeiramente por ser o primeiro CD gravado num estúdio de música em Cuiabá. Consegui patrocínios de empresas, contratei bons músicos e fizemos uma tiragem de mais de 15 mil cópias. Tive um feedback muito interessante”, relata.

Em 1999 mudou para Jundiaí-SP, buscando expandir sua obra, levando as suas canções pelo Brasil e mundo afora. Criou parcerias relevantes com outros músicos como Zé Geraldo, Paulo Simões, Geraldo Espíndola, Ana Rafaela entre outros.

Segundo a crítica especializada, a obra de João Ormond, é uma das mais expressivas revelações da paisagem poético-musical do Mato Grosso-Brasil. Sinalizando o artista como fundamental na preservação e valorização das identidades culturais, interpretando as belezas da fauna e flora, os amores, as tradições, costumes, danças, festas religiosas e crenças. Nesse caminho, ele estabeleceu um compromisso social e afetivo com a música e seu público, que se revela às pessoas o quanto as expressões/manifestações culturais são essenciais para vida social.

Confira abaixo o bate-papo completo com João Ormond no Podcast Unesp.