Edgard Scandurra: 40 anos de Ira!

Um dos símbolos do rock de São Paulo e do Brasil, guitarrista conta histórias de quatro décadas de carreira e apresenta novas composições.

O grupo Ira! completa neste mês de outubro, 40 anos de sua primeira apresentação, ocorrida durante o 1º Festival Punk da PUC em São Paulo. Naquele momento, a banda contava com Marcos Valadão “Nasi” no vocal, Edgard Scandurra na guitarra, Adilson Fajardo no baixo e Fábio Scattone na bateria. De lá pra cá, criou-se uma história irada.

Considerado um dos principais guitarristas do país, o músico, cantor, compositor e produtor Edgard Scandurra conta que o sentimento que fica após percorrer esta estrada é de plenitude, e que o tempo voou.

“É impressionante a velocidade do tempo. Parece que foi ontem. A gente ali, saindo da adolescência, ensaiando na garagem de casa, cheio de energia e curtindo sem grandes pretensões. De repente, aparecem gravações, contratos, o público cresce, estamos dentro de um estúdio de ponta no Rio de Janeiro gravando nosso primeiro disco, “Mudança de Comportamento”. Esse disco é muito especial. Nós gravamos e mixamos em 9 dias. Foi um momento mágico, conhecemos o presidente da WEA, André Midani, um cara sensacional. O disco foi produzido por Pena Schmidt”.

Segundo Scandurra, as vertentes que alimentam o espírito artístico são os shows e as gravações dos álbuns. Nesse sentido, ele relembra três momentos emblemáticos da história do Ira! “Primeiramente, o show na Praça do Relógio na USP em 1986. Ali a gente mostrava quem realmente éramos com canções que já estavam mais conhecidas como Envelheço na Cidade, Flores em você e Dias de Luta, por exemplo. Em segundo, o show no Rock in Rio em 2001, tocando para mais de 200 mil pessoas que cantavam com a gente. Sentimos o quanto nossa música atingia a massa. E, em terceiro, um show na virada cultural de 2017 quando finalmente tocamos no Teatro Municipal de SP, um local que eu considero sagrado da música na cidade. Fomos aplaudidos de pé, com o teatro lotado e o dobro do público assistindo do lado de fora pelo telão. Tive a felicidade de ter meu filho Daniel ao meu lado, tocando contrabaixo. Foi sensacional!”.

Assim como outros inúmeros artistas, o Ira! também foi afetado pela pandemia, sofrendo impactos como cancelamento de shows e restrição nas divulgações dos trabalhos. Porém, o momento também fez surgir novos trabalhos e panoramas, inclusive para o Edgard. “Lancei o álbum Jogo das Semelhanças. Um trabalho despretensioso, mas que deu muito certo. De forma intimista, gravei tudo no celular e comecei a postar no Instagram. A resposta do publico foi muito positiva”, conta. Em linhas gerais, o disco tem um astral atraente que mescla sentimentos diversificados. Quase todas as canções foram compostas durante a ampla quarentena sob a execução do violão de nylon de Edgard e timbres que remetem ao artista, com nuances flamencas, eletrônicas, rock e baladas. Além das plataformas, o álbum foi lançado em fita cassete e vinil.

Posteriormente, surgiu parceria com o cantor e compositor Leno, célebre artista ligado à Jovem Guarda. “Conheci o Leno nesse processo de lançamento do meu álbum solo. A gente se tornou amigo, e durante nossos papos por WhatsApp nos deparamos com ideias e gostos musicais em comum. Aí fiz uma versão de Time, do The Alan Parsons Project, e caiu muito bem na voz aveludada do Leno”, relata Scandurra.

Também num contexto similar de amizade, surgiu outra bela parceria, esta com a jornalista Marília Gabriela: Uatzapi Blues. Canção alto astral que retrata amizades criadas pelo WhatsApp durante o período pandêmico. “A Gabi tem um vozeirão. Digna de um blues. Foi uma grata surpresa me tornar amigo dela e gravar um som. Quem sabe faremos uma outra para ser o lado do B dessa história?”

Enfim, Edgard e o Ira! sobreviveram a mais essa “guerra”. As agendas do músico e da banda já estão sendo retomadas com shows pelo Brasil e com a perspectiva de novos tempos. “Apesar dos impactos da pandemia, tudo isso que ocorreu também fez a gente refletir o quanto a arte é importante em nossas vidas. Eu acredito em tempos melhores, sou positivista, vamos passar por esse momento de crise sanitária e política que afeta o país. Estamos juntos! Grande abraço a todos!”.

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Foto acima: divulgação.