Morte de presidente coloca em questão processo de pacificação do Haiti, diz pesquisadora da Unesp

Juliana Bigatão, do grupo de Estudos de Defesa e Segurança, lembra que o político já havia escapado de uma tentativa de golpe no passado.

O presidente do Haiti Jovenel Moïse foi assassinado a tiros nesta quarta-feira, 7 de julho, dentro de sua própria casa. A primeira-dama Martine Moïse também foi baleada e hospitalizada. As autoridades locais desmentiram a morte dela. Os assassinos chegaram em vários carros e usaram alto-falantes para anunciar o disfarce, dizendo ser autoridades dos EUA. Um morador registrou a ação.  

Moïse comandava um governo turbulento. Venceu o primeiro turno das eleições de 2015 que acabaram anuladas após acusações de fraudes. Um governo interino assumiu até que um novo pleito fosse realizado no ano seguinte. Moïse venceu e assumiu em 2017. A oposição alegava que o mandato dele deveria ter acabado em fevereiro deste ano, quando se completaria cinco anos, incluindo aí o período em que o país esteve sob governo interino.  O ex-presidente defendia que só deveria sair em 2022, quando completaria cinco anos de sua posse. 

Há mais de um ano, ele havia dissolvido o congresso e governava por decreto, tentando reescrever a Constituição. Sua morte teve reverberação mundial. Inúmeras autoridades se pronunciaram. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, informou estar chocado. Já o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que o assassinato foi “um ato repugnante”, e pediu calma ao país.    

Doutora em Relações Internacionais pela Unesp e pesquisadora do GEDES – Grupo de Estudos de Defesa e Segurança da Unesp de Franca, além de professora da Unifesp, Juliana Bigatão, relata aspectos políticos que culminaram na morte do presidente Jovenel Moïse e ampliaram a crise institucional e humanitária no Haiti. 

Ela lembra que, no ano passado, Jovenel Moïse já havia relatado ter escapado de uma tentativa de golpe. Ela avalia que o atentado coloca em questão o processo de estabilização que a Organização das Nações Unidas tenta implantar no país caribenho desde 2004, e que incluiu a participação de mais de 30 mil militares brasileiros. “Já havia uma situação preocupante em função dos índices de violência urbana, dos altos índices de desemprego, e a ocorrência de catástrofes naturais como furacões e terremotos” diz. “O país continua seguindo numa trajetória marcada por ciclos de violência.”

Ouça a análise de Juliana Bigatão no áudio do Podcast Unesp a seguir.

Acima, foto de Jovenel Moïse em entrevista à imprensa em 2017. Crédito: domínio público.