O que tem em comum os cantores de MPB Zizi Possi, Toninho Horta e Toquinho, os músicos de jazz John Pizzarelli, Dave Liebman e Regina Carter e os artistas de rock pesado Alice Cooper e Deep Purple? Todos, em algum momento, compartilharam palcos e apresentações com o percussionista, professor e pesquisador musical brasileiro Vinícius Barros, instrumentista hoje reconhecido como uma das referências nas “peles” em atividade no país.
Vinícius Barros, ou simplesmente Vini, nasceu em Cesário Lange, interior de São Paulo, no ano de 1972. “Cresci no interior de São Paulo, onde havia uma série de bandas de coreto que executavam diferentes gêneros musicais. Venho de uma família na qual meu pai, meu tio e minha tia eram músicos. Até meus avós e bisavós tiveram relação com bandas. Meu pai foi baterista de bandas de baile durante anos e tocou como profissional até 1970. Quando nasci, infelizmente ele não tocava mais, mas continuou sua carreira na área da educação e seguiu ativo na área musical até o final da vida. Ele conhecia tudo o que acontecia no mundo do jazz. Eu cresci com isso, ouvindo boas músicas. Inclusive cheguei a tocar com músicos de que ele falava lá trás. A influência do meu pai, Márcio Antonio de Camargo Barros, foi a maior que eu tive nesse sentido”, relata.
Vinicius se formou pelo Conservatório de Tatuí, em 1994. Depois cursou o bacharelado em percussão pelo Instituto de Artes da Unesp, que concluiu em 2001, e posteriormente engataria um mestrado percussão pelo Instituto de Artes da Unicamp, em 2015. Em sua trajetória como estudante e pesquisador, ele pode aprender e conviver com importantes mestres da percussão como John Boudler, Carlos Stasi, Eduardo Gianesella, Marcos Suzano, Guello e Osvaldinho da Cuíca.
Início no Conservatório
Iniciou seus estudos nos Conservatório de Tatuí aos 14 anos. Seu desejo era se tornar baterista e atuar com um repertório popular. Porém, o conservatório oferecia apenas estudos em percussão clássica, e raramente abria espaço para sonoridades mais populares.
“Fui estudando mais percussão clássica. À medida que as coisas foram evoluindo, tinha que permanecer mais tempo lá, porque não possuía os instrumentos: marimbas, xilofone, tímpanos, essas coisas. Por fim, entrei numa orquestra jovem que havia lá na região, depois numa banda sinfônica e em seguida numa orquestra sinfônica. A hora que percebi, tinha fugido do meu lado popular, da bateria, mesmo gostando muito. Comecei a dar mais ênfase para instrumentos de percussão clássica, na verdade, clássica e contemporânea”, diz.
Certa vez, um professor o convidou para tocar vibrafone em sua banda de jazz. O convite também abria espaço para usar tamborim ou agogô em alguns números. A experiência despertou interesse pela produção popular. “Comecei a tocar, pegar gosto e pensei que esse poderia ser um caminho pra tentar me aproximar mais da bateria novamente. Comecei a ter aulas particulares. Entrei no curso de percussão clássica da Unesp e, no terceiro ano de universidade, pintou o concurso para a Brasil Jazz Sinfônica de São Paulo, onde estou há 25 anos”, diz. Por meio Brasil Jazz Sinfônica, ele pode se aprimorar nos ritmos populares. Isso abriu portas. “A percussão me proporcionou novos caminhos, inclusive uma carreira internacional”, conta Vini.
Naná Vasconcelos, uma inspiração
“A profissionalização e as oportunidades ocorreram de maneira natural. Tive o privilégio de me apresentar ao lado de inúmeros músicos relevantes, dentro e fora do país. Entretanto, algo que sempre penso é na identidade que o nosso som, a nossa arte deve ter. Por exemplo, se pensarmos nos ritmos brasileiros como o samba, o frevo e o maracatu, cada qual tem sua peculiaridade e essência. Então, por muitas vezes, é importante que possamos entender a cultura e os elementos que formam aquela música. Não adianta o músico aplicar um monte de notas se não está transmitindo a alma daquele som”, diz.
“Nesse contexto é importante destacarmos mestres como Naná Vasconcelos, por exemplo. Ele deixou esse legado, de entendermos e levarmos a música de uma forma sublime, diferenciada e humilde. Pois todos os ritmos têm seus respectivos valores e características, que devem ser compreendidos e respeitados”, diz.
Atuando como percussionista desde 1999 ele é atualmente chefe de naipe da Brasil Jazz Sinfônica de São Paulo. Em sua carreira na orquestra, tocou com nomes como Richard Bona, Deep Purple, John Pizzarelli, Dave Liebman, Regina Carter, Toninho Horta, Dori Caymmi e João Bosco. E outros projetos o levaram a compartilhar o palco com Donny McCaslin, Ted Piltzecker, Victor Mendonza, Banda Savana, Banda Mantiqueira, Orquestra Popular de Câmara, Zé Renato, Oswaldinho do Acordeon e Carlos Malta, além dos já mencionados Zizi Possi e Toquinho. Isso para ficar em alguns nomes.
Um desses outros projetos é o grupo Vana Trio plus Brazilian Percussion, liderado pelo pianista alemão radicado em Nova York Vana Gierig. Com esta formação, o músico tem se apresentando em importantes festivais nos Estados Unidos, Europa, Japão e Brasil. Além disso, desenvolve trabalho de pesquisa com ritmos tradicionais brasileiros, tendo ministrado cursos em várias escolas em Portugal, México, Estados Unidos, Inglaterra, Finlândia e Japão.
Professor em Nova York
Em 2021, esteve com a Brasil Jazz Sinfônica representando o Estado de São Paulo na Expo 2020 em Dubai, participando de um total de 10 concertos. No ano seguinte, foi convidado a participar do North Percussion Festival em Amarante, Portugal, onde lecionou workshops e fez um concerto junto com o trio liderado por Vana Gierig. No ano de 2023, recebeu convite para dar aulas de percussão brasileira como professor convidado na University of Hartford, nos Estados Unidos. E, em janeiro de 2024, mudou-se para Nova York e começou a dar aulas de percussão brasileira na mesma instituição, numa posição permanente.
“Está sendo uma experiência muito importante para mim. Ensino em aulas individuais e para grupos, somente música brasileira. Aqui em Nova York tive a possibilidade de conhecer muitos músicos novos e tocar em vários locais emblemáticos, como o Jazz Club Birdland. E também em projetos de música brasileira, como o Samba de Terreiro do Brooklyn. Aproveito a oportunidade para agradecer à Unesp pela minha formação e aos mestres que tive aulas no Instituto de Artes em São Paulo, como John Boudler, Carlos Stasi, Eduardo Gianesella e Alberto Ikeda”, diz.
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.
Imagem acima: divulgação.