A Orquestra Paulista de Choro desvela as infinitas possibilidades do gênero

Grupo originado em Campinas combina formação regional tradicional com sopros, baixo, bateria e guitarra para apresentar arranjos inovadores, e abre espaço para obras de compositores de São Paulo. Estilo, que em abril ganhou status de patrimônio cultural nacional, aos poucos está sendo descoberto no exterior, ganhando festivais próprios e inspirando músicos.

Apresentar toda a magia e a brasilidade do choro potencializada por arranjos diferenciados e inovadores, onde os timbres tradicionais dos instrumentos da chamada formação do regional de choro (bandolim, cavaco, sanfona, pandeiro) são complementados por sopros diversos e até bateria, baixo e guitarra. Esta é a proposta da Orquestra Paulista de Choro, em atividade há mais de uma década, e que vem contribuindo decisivamente para a renovação do gênero.

Nas origens do grupo estava um grupo de estudantes da Unicamp que costumava se encontrar nas rodas de choro que pululavam em Barão Geraldo (o distrito onde fica a Unicamp) para estudar, praticar e curtir. Deste núcleo original surgiu em 2014 a  Orquestra de Choro Campineira. Desde então, o grupo passou por algumas alterações. A atual formação é composta por Eduardo Pereira (cavaquinho e bandolim), Gustavo de Medeiros (guitarra, violão 7 e bandolim), João Casimiro (bateria), Klesley Brandão (trompete e flugelhorn), Nath Magalhães (percussão), Pedro Assad (Piano), Ramon Del Pino (contrabaixo elétrico), Thaynná Oliveira (flauta transversal) e Vitor Alcântara (sax tenor). Em meio às mudanças, o nome foi trocado para uma formulação mais ampla: Orquestra Paulista de Choro.

Ainda no começo das atividades, os músicos se interessaram pela obra do compositor Laércio de Freitas. Nascido em Campinas e residente em São Paulo, de Freitas atua há quase 70 anos e já trabalhou com artistas como Maria Bethânia, Wilson Simonal, Ângela Maria, Clara Nunes, Ivan Lins e Emílio Santiago, entre outros. Ainda sob o antigo nome de Orquestra de Choro Campineira, o grupo se propôs a gravar músicas que representassem a obra de Laércio de Freitas sob uma perspectiva singular, que combinasse elementos clássicos do choro e novas sonoridades. O trabalho demandou uma pesquisa sobre a obra de Laércio de Freitas, e o grupo terminou por adotar como referência seu álbum São Paulo no Balanço do Choro, lançado em 1980. O resultado foi o primeiro álbum do grupo, Orquestra Campineira de Choro Visita Laércio de Freitas, lançado em 2017, e que trouxe colaborações do próprio Laércio em arranjos e gravações do trabalho.

Thaynná Oliveira, que toca flauta transversal, diz que o grupo se expandiu para além da Campinas natal. “Eu mesma nasci no Rio de Janeiro”, conta. Ela conta que o repertório que o grupo apresenta em shows não se limita ao álbum, e abre espaço para apresentar releituras das obras dos grandes compositores do gênero. De Pixinguinha apresentam atualmente uma releitura do clássico Cheguei, composto em 1938, e Álvaro Sandim (1862-1919) é relembrado com Flor de Abacate.  Mas há espaço também para nomes importantes, porém menos conhecidos, como o paulista Esmeraldino Salles ( 1916-1979), para quem fizeram um  arranjo para Arabeando. “Todos temos vivências diversas de música instrumental, além do choro. Tem gente que toca jazz, por exemplo. Eu toco música latina. Nosso repertório parte de Campinas mas se abre para uma perspectiva nacional”, conta.

Quem quiser conferir ao vivo o repertório da Orquestra Paulista de Choro, a dica é ficar de olho na programação da rede Sesc, onde eles costumam se apresentar. Nesta sexta-feira o show é em São Paulo, no Sesc Belenzinho, às 21h. A apresentação já inicia as comemorações do Dia Nacional do Choro, que acontece no próximo dia 24/4. A data foi escolhida porque coincide com o aniversário de Pixinguinha.

Aliás, em fevereiro passado, o choro passou a ser reconhecido como patrimônio cultural nacional, por decisão do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).  Thaynná lembra que o processo até este reconhecimento não foi sem obstáculos. “O choro é uma música negra, e já sofreu bastante preconceito. Basta a gente lembrar que, há cerca de 100 anos, o Ernesto Nazareth ia se apresentar no Teatro Municipal do rio de Janeiro, para tocar seu repertório, e houve quem fosse contra”, diz. “Hoje o choro é um patrimônio tombado, isso é muito gratificante.

E também aos poucos o estilo está conquistando corações em outros países.  “Acho que a gente estava vivendo uma fase da internacionalização do choro. Esse ano tem festivais pelo mundo inteiro. Em Paris já está acontecendo a terceira edição de um festival. Há pessoas pelo mundo inteiro que estão tocando, estudando os acordes, ouvindo Nazareth… É muito bonito ver isso. Tem muitos jeitos de tocar choro”, diz.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.

Imagem acima: Nina Pires.