Os reflexos do isolamento social forçado pela pandemia na saúde mental das pessoas

No podcast Prato do Dia, psicóloga da Unesp Juliene de Cassia Leiva reflete sobre a dificuldade em estabelecer vínculos afetivos estáveis, objeto de preocupação dos profissionais que lidam com saúde mental.

O sentimento de solidão, a dificuldade em estabelecer vínculos afetivos estáveis e o sofrimento psíquico proveniente da ausência de relações interpessoais e/ou de interações sociais gratificantes compõem um quadro desafiador para os profissionais de saúde dedicados à promoção do bem-estar e da saúde mental. 

Psicóloga do programa De Setembro a Setembro, voltado para cuidados permanentes com a saúde mental na Unesp, Juliene de Cassia Leiva acredita que o isolamento social prolongado causado pela pandemia de covid-19 tornou este desafio ainda maior. Segundo ela, a literatura científica da área de psicologia social tem indicado um aumento no número de queixas relacionadas a transtornos como a depressão e a ansiedade no pós-pandemia. “Tudo indica que este fato esteja relacionado à ocorrência do isolamento social e da pandemia. Para nós, é muito importante que admitamos esta realidade para que possamos lidar com isso”, afirmou a psicóloga ao podcast Prato do Dia.

Durante a conversa, Juliene de Cassia Leiva faz uma distinção importante entre os termos “solidão”, mais relacionado à ausência de vínculos e objeto de preocupação dos profissionais que lidam com saúde mental, e “solitude”, que vem sendo utilizado para definir a condição de quem se isolou de forma voluntária para refletir e/ou relaxar, ou seja, desejou ficar sozinho por um período. A profissional de saúde reflete também sobre o impacto das redes sociais no cotidiano das pessoas, especialmente dos jovens, e acerca do dia a dia das atividades presenciais. 

“Muitos de nós perdemos pessoas queridas e estranhamos de alguma maneira o convívio social (durante a pandemia). É como se fosse perigoso se aproximar dos outros. Fomos ficando, assim, assustados em relação à interação social. (Agora) Estamos reaprendendo a nos aproximar das pessoas, a fazer identificações”, diz.

O trabalho na Universidade, iniciado em 2022 com a instituição do programa De Setembro a Setembro, tem um foco especial para os estudantes ingressantes que estão pisando em um câmpus universitário pela primeira vez. Daí a elaboração de uma rede de suporte mais abrangente que seja capaz de realizar acolhimentos nas 24 cidades em que a Unesp está presente no Estado de São Paulo. Pela primeira vez, existem equipes de saúde em todos os 24 câmpus.

“É importante da nossa parte, enquanto agentes de saúde dentro da Universidade, que estejamos atentos para o fato de um estudante recém-chegado não ser capaz de formar vínculos, fazer amizades, saber com quem contar ou onde pedir ajuda, muitas vezes, para coisas simples do dia a dia”, pondera.

Na mídia abaixo, ouça a íntegra da conversa com a psicóloga da Unesp Juliene de Cassia Leiva, disponível também na plataforma Podcast Unesp, bem como nos tocadores Google Podcasts, Spotify e Deezer. O podcast Prato do Dia é produzido pela Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp e costuma contrapor, em tom mais informal, reflexões acadêmicas sobre assuntos da atualidade.