Morreu na manhã desta segunda-feira (31 de maio), aos 63 anos, o jornalista Maurício Tuffani, editor-chefe do Jornal da Unesp. Um dos mais respeitados jornalistas de ciência do Brasil, Tuffani morreu após sentir-se mal em sua casa, na zona norte da capital paulista.
Com sólida formação acadêmica, Tuffani era autodidata e apaixonado pela profissão em que iniciou em 1978, como revisor dos jornais do Grupo Estado (O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde). Bem-humorado, costumava repetir que a intensa rotina do fazer jornalístico era “melhor que trabalhar”.
“’O Tuffani. Um dos melhores jornalistas de ciência que eu conheço’. Ouvi isso diversas vezes ao longo da minha carreira e principalmente quando estávamos planejando o relançamento do Jornal da Unesp, procurando um jornalista para assumir o cargo de editor-chefe. A nossa escolha não poderia ter sido melhor: Maurício Tuffani, em poucos meses, tornou-se o nosso guru. Era engraçado contando ‘causos’ da sua carreira e um porto seguro para responder às nossas consultas. Conversávamos quase todos os dias. Tornou-se um grande amigo e fará muita falta”, afirma o professor Marcelo Takeshi Yamashita, assessor-chefe de Comunicação e Imprensa da Unesp.
Na Unesp, antes da passagem atual, havia sido assessor-chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI) da Universidade nas gestões dos reitores Marcos Macari (2005-2009) e Herman Voorwald (2009-2013). Chegou à Unesp por indicação do professor Carlos Vogt, então reitor da Unicamp e um entusiasta da divulgação científica.
“O Maurício Tuffani foi muito importante porque ele mudou a característica da ACI, principalmente no que diz respeito ao relacionamento da Universidade com a imprensa. Durante a gestão, ele promoveu muito o media training, trazendo especialistas e jornalistas para conversar com os gestores. Fazia uma mediação muito importante do gabinete com a imprensa e também era muito competente na mediação com outros atores, como na reunião do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas). Era uma pessoa muito inteligente e com capacidade de acalmar ânimos, fazer com que as pessoas tivessem uma discussão tranquila. Gostava muito dele”, afirma o professor Marcos Macari.
Em 2009, já na gestão de Herman Voorwald, Tuffani criou a revista Unesp Ciência, que sob o seu comando se tornou referência em divulgação científica. Na academia, o jornalista foi professor convidado do Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico (Labjor), na Unicamp, e do Núcleo José Reis de Divulgação Científica, na ECA-USP.
“Na Unesp, ele aceitou o desafio e viabilizou uma revista científica caracterizada, como sempre dizia, não de chapa branca”, diz o ex-reitor Herman Jacobus Voorwald.
“A Unesp Ciência, por mais que fosse uma revista vinculada a uma instituição, fazia jornalismo de verdade, com fontes da Unesp, mas sem limitar-se a elas”, conta a jornalista Giovana Girardi, que foi editora da revista. “Conheci o Tuffani em 1997, na Folha. Eu era uma foca (jornalista iniciante) e ele foi apresentado a mim como a ´pessoa mais inteligente da redação´. Generoso, inteligente, perspicaz, era uma enciclopédia e não era vaidoso. Estava sempre pronto a dividir, a compartilhar as histórias e o conhecimento”, diz Giovana.
Nos anos 1990, Tuffani foi repórter e editor de Ciência na Folha de S.Paulo, jornal para o qual retornou como blogueiro, atuando até março de 2016. Naquele ano, deixou o cargo de editor-chefe da revista Scientific American Brasil e encerrou as atividades do blog para pôr em prática um projeto que ele próprio concebeu, o site Direto da Ciência.
“Ele foi um cara que sempre me impressionou pelo conhecimento, pela bagagem cultural muito forte. Aquele tipo de pessoa que pode conversar sobre qualquer assunto, muito culto”, diz o jornalista Herton Escobar, do Jornal da USP. “E, mesmo mais velho, ele foi empreendedor ao criar o Direto da Ciência em 2016 e preencher um vácuo que existia no jornalismo, com notícias de política científica, meio ambiente e educação superior. Era um conteúdo que estava faltando e que usei muito, uma baita referência de informação”, lembra Herton.
Além de contribuir para a formação de inúmeros jornalistas de ciência, Maurício Tuffani ajudou a dar outra dimensão à divulgação científica no Brasil, apoiando o trabalho de muitos cientistas. “Foi um gigante do jornalismo científico brasileiro. As passagens dele pela Revista Galileu, pela Folha de S.Paulo, o trabalho dele na montagem da revista de divulgação científica da Unesp foram trabalhos históricos e extremamente importantes para o jornalismo de ciência brasileiro. Ele formou e ajudou a formar muitos profissionais que hoje têm destaque na profissão e sempre esteve pronto e a postos para aconselhar e acompanhar a carreira não só de jornalistas profissionais, mas também de divulgadores de ciência vindos de outras áreas”, lamenta o jornalista Carlos Orsi, editor-chefe da revista Questão de Ciência.
Ao longo do dia, muitos cientistas e colegas de profissão lamentaram a morte de Tuffani (veja algumas das manifestações feitas pelo Twitter ao longo deste texto). Presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), a professora e pesquisadora da Unesp Vanderlan Bolzani disse estar “chocada” com a “perda de um grande jornalista”. “A saudade é um sentimento sublime e só sentimos saudade das pessoas queridas”, afirmou a cientista.
A Editora Unesp, à qual o jornalista estava vinculado atualmente, e a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) também lamentaram a morte de Mauricio Tuffani, que também era membro do Conselho Editorial da revista Pesquisa Fapesp.
“Todos que conheceram Maurício Tuffani têm consciência da sua bagagem intelectual, competência e de seu típico aguerrimento na defesa de suas convicções. A Unesp, a comunidade acadêmica e a divulgação científica brasileira perdem um nome de primeira grandeza”, diz o professor Jézio Gutierre, presidente da Editora Unesp.
Ao longo dos 43 anos como jornalista, Tuffani foi ainda redator-chefe e editor-chefe da revista Galileu (Editoria Globo), editor-executivo dos portais PNUD Brasil (do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e Nações Unidas no Brasil e responsável pela comunicação institucional da Secretaria Estadual da Educação e do Instituto Florestal, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Trabalhou também na Câmara dos Deputados, inclusive durante a Assembleia Nacional Constituinte, na retomada democrática do Brasil.
“Ele deixa uma marca muito importante na história da comunicação de ciência do Brasil, mais até do que no jornalismo, e deixa uma lacuna enorme em um momento histórico em que apresentar a ciência para a população de forma clara e crítica é de extrema importância”, afirma o jornalista Carlos Orsi.
Pouco antes de morrer, Tuffani fez contatos com fontes e participou ativamente da reunião de pauta do Jornal da Unesp, relembrando uma passagem de sua carreira e dando sugestões de encaminhamentos para o trabalho jornalístico no âmbito da Universidade. Deixa a mulher, Lélia Marino, e o filho André Tuffani.